quarta-feira, 12 de outubro de 2005

No dia das Crianças

JBr ONLINE:

Sonho de crianças

A foto de uma criança abraçada à estrela vermelha do Partido dos Trabalhadores emoldurou o momento do voto do presidente Lula em seu desgastado candidato Ricardo Berzoini – que foi o ministro do Trabalho que enfileirou os velhinhos para recadastramento e que, agora, pretende mudar os procedimentos do partido e do governo.

Lula foi uma daquelas crianças brasileiras que tinha tudo para viver nas ruas ou em instituições intituladas como protetoras de menores. No entanto, por um desses desígnios do destino, conseguiu superar a pobreza e o abandono para se transformar no pai simbólico da nação brasileira.

Pelo passado do presidente, o povo imaginou que a prioridade das ações governamentais seria a questão social. Não existiam dúvidas de que a educação, a saúde, o fortalecimento da família e a segurança formariam o plano de metas que diminuiria a cruel distribuição de renda, com a geração de novos empregos, melhores salários e vida digna para os desfavorecidos. Não foi isso o que aconteceu. No primeiro momento de seu governo, Lula acolheu no ministério os políticos que o povo recusou; os derrotados nas eleições. Em seguida, fulminou, por telefone, o senador Cristovam Buarque, demitindo-o do Ministério da Educação e criando o primeiro inimigo interno do governo da mentira institucional. Buarque já seguiu o seu destino e procurou, na sombra de Brizola, o seu espaço político.

O presidente Lula, talvez por não ter experimentado a orientação paterna, até pelos motivos causados pelo abandono, está se saindo como péssimo orientador de seus pimpolhos, e, nesse Dia da Criança, é um bom momento para meditação sobre como não criar filhos ou apadrinhados da vida pública. Tratando como crianças desobedientes ou peraltas àqueles a quem deve repreender com rigor, o presidente está transmitindo às crianças brasileiras que não tem nada de mais ser corrupto ou irresponsável. O episódio do seu filho, que se transformou do dia para a noite em milionário, recebeu do pai querido e compreensivo a simples alusão de que não se mete nos negócios dos seus filhos. Como ficarão as crianças cujos pais nunca serão presidente? Imaginarão que mesmo que estudem e trabalhem à exaustão não terão oportunidade de criar uma empresa de videogame e transformá-la, em segundos, num grande negócio. O caso não é digno de servir de exemplo na formação das futuras gerações.

Outro caso de criancice que merece destaque foi a reunião do querido paipai Lula com seus meninos quase decapitados pela Câmara dos Deputados. Os guris comportados, de banho tomado, cabelos lambidos e fisionomias de seminaristas, se prostraram perante o mestre para ouvir a admoestação carinhosa sobre seus atos infracionais ao pegar dinheiro de origem duvidosa e de mãos mais sujas do que pau de galinheiro. Os meninos infratores, em vez de esclarecedoras orientações para procedimentos futuros, foram denominados de pessoas que erraram e não de corruptos, como estão sendo apontados pelas investigações das CPMIs e da Polícia Federal. Todos aceitaram a sugestão de saírem de fininho, como já havia sido indicado por Roberto Jefferson. Como penitência, mesmo para os ateus, foi determinado que rezassem três Ave-Marias e um Pai-Nosso. Obedientes, os meninos entrarão de férias compulsórias e poderão reiniciar suas caminhadas pelas ruas, justificando que já pagaram seus pecados e estão prontos para receber os votos que os recolocarão no Congresso.

Por último é a questão do Genival Inácio, irmão de Lula e agenciador de audiências no Palácio do Planalto. A mão amiga do presidente já afastou qualquer suspeita sobre a conduta do mano. São essas ações, nada exemplares, que amarguram os corações das crianças no seu dia, que deveria ser festivo, mas não o é pelo medo e pela desesperança que se instalaram no País.

Paulo Castelo Branco é advogado

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