domingo, 29 de junho de 2008

Para pesquisador, País tem excesso de programas sociais

Economista diz que desafio é gerir melhor as políticas públicas já existentes

Roldão Arruda

O Brasil precisa parar de criar cestas de políticas sociais e econômicas. O desafio do próximo presidente da República - a ser eleito em 2010 - será dar um mínimo de unidade às políticas já existentes e fazer com que conversem entre si. Se não fizer isso, o sucessor de Lula corre o risco de continuar administrando um país desigual e contraditório, com um pé no século 21 e o outro nas sociedades pré-capitalistas do século 19.

Essas afirmações fazem parte de um estudo apresentado recentemente no Instituto de Economia da Unicamp pelo pesquisador Cláudio Dedecca, durante concurso para o cargo de professor titular. O economista analisou em primeiro plano a situação do campo brasileiro, onde um setor modernizado, baseado em grandes empresas, algumas com ações na Bovespa e presença no mercado internacional, convive com uma situação arcaica do ponto de vista dos trabalhadores.

De um conjunto de quase 10 milhões de trabalhadores do setor, o economista verificou que metade não tem remuneração. “O assalariamento formal compreende ao redor de 1,5 milhão de pessoas, enquanto o trabalho não remunerado e em auto-consumo atinge mais de 5 milhões”, diz ele. Do grupo restante, quase 2,5 milhões são bóias-frias e trabalhadores em condições precárias, e os outros trabalham por conta própria. “Temos muito mais gente sem salário no setor agrícola do que no segmento formal.”

A partir daí ele analisa algumas soluções que estão sendo propostas e mostra que algumas, como a expansão da cana-de-açúcar, podem agravar ainda mais essa disparidade entre o moderno e o arcaico: “A lavoura da cana-de-açúcar, cuja administração é das mais modernas, emprega pouca mão-de-obra. Na escala de absorção de trabalhadores, está em sétimo lugar, atrás do algodão e outras culturas.”

Para Dedecca, os problemas são complexos e as soluções precisam ser globais, combinadas. Não é isso, porém, o que vem ocorrendo. “O governo federal tinha, até dois anos atrás, 36 programas orientados para a qualificação e formação profissional dos jovens. Tinha ministério com mais de um programa para essa área - e um não tinha contato com o outro.”

Segundo o economista, o País já estabeleceu uma quantidade suficiente de programas econômicos e sociais. “A cesta está completa. E não adianta pensar em criar outros, porque não teremos recursos: chegamos a uma carga tributária que bateu no teto. A saída agora é o diálogo entre todos esses programas já criados. É preciso que o Bolsa-Família dialogue com o programa de financiamento da pequena agricultura familiar, que o Ministério do Desenvolvimento Agrário dialogue com o do Meio Ambiente e assim por diante.”

A solução é política, diz: “Fomos consolidando uma prática de barganhas políticas, envolvendo ministérios, secretarias, partidos, cada ministro querendo capitalizar para seu partido. Em vez de atuarem articuladamente, concorrem entre si”.

Estadão


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